São Pedro e São Paulo: o grande laço de união entre eles é a fé em Cristo

São Pedro e são Paulo são considerados as duas colunas fundamentais da Igreja de Cristo. A liturgia sempre reuniu os dois Apóstolos numa só solenidade, por considerá-los os dois fundadores da Igreja de Roma. Embora profundamente diferentes entre si, pela personalidade e pela história individual – até tiveram atritos entre si (Gl 2, 11-14) – o grande laço de união entre ambos é exatamente a fé comum no Cristo morto e ressuscitado, a qual se tornou a razão de ser das suas vidas de missionários e evangelizadores, levando-os à doação total na experiência do martírio.

Pedro desde o início é representado nos evangelhos como o primeiro dos Apóstolos. Nos momentos decisivos em que a missão de Cristo envolve crise, é sempre Pedro o porta-voz dos Apóstolos, o primeiro a proclamar a fé da Igreja primitiva. Aos poucos Jesus o colocou em evidência entre os Apóstolos, marcando-o como seu futuro vigário na Igreja e este homem de temperamento impulsivo, mas leal, generoso recebeu de Jesus a solene e grave tarefa de conduzir o seu rebanho aqui na terra. É por isso que são Pedro mereceu ser a base da Igreja de Cristo (cf. Mt 16, 18). O nome Pedro não foi transliterado da forma aramaica para o grego, mas sim traduzido de Cefas para Pedro, dada a grande importância que a Igreja primitiva atribuía ao nome Rochedo, imposto a Simão por Cristo.

Os dez primeiros capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos descrevem a atuação marcante de Pedro, que emerge como grande líder, responsável pela comunidade cristã de Jerusalém. É Pedro quem toma a iniciativa de integrar Matias ao colégio dos Doze Apóstolos em lugar de Judas; faz o primeiro discurso no dia de Pentecostes; realiza um milagre, curando um homem coxo; toma a iniciativa da eleição dos Diáconos para que atendam a administração material da comunidade cristã; oficialmente abre a porta da Igreja ao primeiro pagão, o centurião Cornélio e sua família, batizando-o em nome de Cristo; convoca o primeiro Concílio dos Apóstolos, tomando a palavra durante o conclave.

Outro aspecto interessante a ser destacado com relação ao primado de Pedro, primado que continua com cada Papa, é que ele é sinal de unidade da Igreja: unidade na doutrina, na liturgia. Um corpo se forma pela união da seus membros à cabeça. Assim, a Igreja de Cristo possui na pessoa do Papa, a cabeça (visível) da Igreja. Todo corpo sem cabeça não vive. Onde não existe este sinal de unidade, cada um segue conforme as suas conveniências. Um dito em latim diz: Tot capita, tot sententiae, ou seja, tantas são as cabeças, tantas são as sentenças. Daí vemos a importância de estar sempre com Pedro, isto é, com o Papa.

Paulo, a seu tempo, fez pelo menos quatro grandes viagens, atingiu quase a metade do império romano para anunciar Jesus Cristo, enquanto este se movimentou basicamente na Palestina. Enquanto Jesus falava em aramaico e anunciava o Reino em parábolas, Paulo falava em aramaico, latim e grego, que era a língua internacional daquele tempo. Era um homem conhecedor de várias culturas, bem preparado intelectualmente para a missão que Deus lhe reservou. Era chamado “doutor das nações” (1Tm 2, 7).

Paulo, observando como se davam as comunicações entre cidades, o bom sistema de correios implantado pelo império romano, não receia copiar as ideias e transformá-las em instrumento de evangelização. Quando a pregação do evangelho era unicamente oral, ele inspirou-se nas cartas que se escreviam e passou a evangelizar com textos escritos. Paulo usa a criatividade para evangelizar. Eis outro exemplo: os gregos cultuavam vários deuses. Tinham até um altar com a seguinte inscrição: “ao deus desconhecido”. Paulo, chegando a Atenas e vendo esse altar, foi esperto, criativo e disse para eles: “Eu vim anunciar para vocês este Deus desconhecido” e aí pregou pra eles o evangelho (cf. At 17, 23ss). A sua pastoral, a sua associação, usa alguma criatividade para evangelizar com mais eficácia?

A celebração da Solenidade de são Pedro e são Paulo é uma grande oportunidade para cada um de nós renovar a nossa consciência a respeito dos valores transmitidos pelas duas grandes colunas da Igreja, de modo que a fé católica seja, cada vez mais, fortalecida internamente e mais identificada com a urgência da proposta missionária e evangelizadora.

Pe. Isauro S. Biazutti