A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo

Na bela poesia do peregrinar litúrgico, quis a tradição associar aos meses algumas devoções para nosso fortalecimento da fé e espiritualidade. Entramos em março, pensamos São José; adentramos em maio, logo pensamos Maria; em junho, Sagrado Coração de Jesus. Algumas devoções caíram no esquecimento e precisam ser reavivadas. Dentre estas, falaremos da devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus, marcando o mês de Julho.

A palavra precioso designa comumente algo nobre e de grande valor. Está ligada a preço. Logo, fica fácil compreender que a Salvação oferecida gratuitamente a nós custou um preço: o sangue precioso de Jesus. Não propriamente um custo monetário, mas um valor inestimável. Há coisas que tem preço, mas não tem valor e vice-versa.

A palavra sangue acena para a dimensão do vivente. O sangue traz o germe da vida. Jesus ao derramar o seu sangue, nos dá a sua própria vida em resgate (1Pd 1,18-19). Mas resgate de que? Se há um resgate, há alguém sequestrado. Fomos sequestrados, feitos reféns pelo pecado. Por conseguinte, o preço de nossa liberdade salvífica foi pago com o sangue de Jesus derramado do alto do madeiro livremente.

É vasta a literatura bíblica referente ao uso da palavra sangue, que traduz a potência de um pacto, uma aliança de grande valor. Recordemos de Ex12, a Páscoa dos judeus, na qual os umbrais das portas foram marcados pelo sangue do cordeiro pascal e, assim, o anjo exterminador não feriu os primogênitos de Israel. O sangue sela um pacto entre o divino e o humano. Não é por acaso que Jesus, na última ceia, toma o Vinho e diz: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue” (1Cor11,25), “Isto é o meu sangue…que é derramado” (Mt26,28;Mc14,24;Lc22,20). De maneira especialíssima, os relatos da paixão de Nosso Senhor, nos revelam que o sangue de Jesus começa a ser derramado já em sua agonia no Getsêmani, quando de sua face escorrem gotas de sangue (Lc22,44). Depois, podemos entrever que em sua flagelação e coroação de espinhos (Mt27,26-31;Mc15,15-20;Lc22,63.23,22;Jo19,1-3) certamente verteu sangue de seus ferimentos. É na crucifixão, do lado aberto de Jesus pela lança (Jo19,34), que temos este Precioso Sangue vertido abundantemente, preço pago de nosso resgate. A expressão “precioso sangue” é bíblica como podemos constatar na já citada 1 Carta de Pedro 1,18-19.

Se outrora, a morte de um cordeiro simbolizava a libertação do cativeiro no Egito, sob a égide de um Deus libertador e providente; agora pela morte do Supremo Cordeiro, Jesus Cristo, nós temos a definitiva libertação, que é a vitória sobre o pecado e a morte eterna. Por isso, é verdadeira a afirmação, apesar de repetida sem a devida reverência: “O sangue de Jesus tem poder!”

A devoção ao Preciosíssimo Sangue já era conhecida na Igreja. Somente em 10 de agosto de 1849 foi oficializada pelo Papa Pio IX no primeiro domingo de julho. Posteriormente, Pio X a fixou em 01 de julho. Com a revisão do calendário litúrgico, esta festa perdeu primazia solene, uma vez que se entendia que já era celebrada intuitivamente nas Solenidades do Corpo de Sangue de Cristo (Corpus Christi), do Sagrado Coração de Jesus, na Paixão de Nosso Senhor, na Exaltação da Santa Cruz. Nestes mistérios é possível reconhecer sem dificuldade o valor inestimável do Sangue Redentor. Contudo, foi conservada no missal uma missa votiva do “Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo” com eucologias próprias e boas opções de textos a serem proclamados. É vivamente recomendado que ao longo do mês de julho se possa fazer uso destes formulários, concedendo aos fieis o tesouro espiritual que brota do Sangue de Jesus, derramado por Amor a todos nós. Vale apena também conhecer e rezar a litania indulgenciada promulgada pelo Papa João XXIII em 1960.

Pe. Júnior César