Refletindo sobre nossa missão pastoral
Nesta semana nacional da família, preparando-nos para celebrar a grande solenidade da Assunção de Nossa Senhora, neste domingo, 18 de agosto, voltemos nosso olhar para a Sagrada Família de Nazaré, em especial, a mãe de Jesus, e nossa mãe, a Virgem Maria. Com Ela, aprendemos a admirar Jesus, o bom pastor misericordioso. O pastor significa líder, aquele que tem uma liderança. Nosso mundo precisa de liderança de amor e misericórdia.
Admirar Jesus, o bom pastor misericordioso, é internalizar também, em nós a missão de pastores para apontar os caminhos, e levar a barca da igreja para o rumo certo. Neste sentido, não vamos pensar somente nos bispos como pastores, mas em nós presbíteros, diáconos, religiosos (as) e cada agente pastoral que oferecem um testemunho para o outro, ajudando-o com a inspiração que nós podemos oferecer ao outro, ajudando o outro a alcançar o caminho de Jesus.
Neste sentido, a liturgia de alguns dias desta 19ª semana do tempo comum, nos apresentou o capítulo 18 do Evangelho de Mateus, o chamado discurso da comunidade, onde Jesus fala para os seus discípulos, para nós que somos a sua Igreja, como devemos viver o amor, a fidelidade e a fraternidade no perdão. Numa das perícopes deste capítulo, encontramos a parábola da ovelha perdida. Será que nós deixaríamos 99 ovelhas nas montanhas para buscar (procurar), uma que se perdeu? Seguramente quem está ouvindo esta conversa de Jesus, diz, ninguém faz isto. Mas é isto que faz Jesus, o bom pastor misericordioso. Em Lucas, nas parábolas da misericórdia, Jesus deixa as 99 no deserto. Já Mateus fala das montanhas. Deserto e montanha, aqui, nós poderíamos entender como lugar de muito silêncio. Porque no alto da montanha é sempre lugar de muito silêncio. Tanto no ermo da montanha como ermo do deserto, às vezes, a gente pode se perder, por causa do aparente silêncio de Deus, pensando que Deus não está falando. O silêncio tem que ser para gente se encontrar, e não se perder. Tem pessoas que não resistem o silêncio, se enlouquecem. Aqui nós pedimos a Nossa Senhora que nos faça viver o silêncio em Deus: contemplação, acolhida, encontro, reconciliação, misericórdia, amor, paz interior.
Esta ovelha não foi encontrada por um acaso. Ela foi encontrada porque foi procurada; procurada por Jesus misericordioso. Esta é a pastoral da procura: uma igreja em saída, missionária, que vai acolher as pessoas que chegam na comunidade, que vem morar na nossa cidade, nos visitar, pessoas pobres que vivem em nossa comunidade, pessoas que distanciaram da participação comunitária. É assim que nós admiramos Jesus, por causa das visitas de apoio, solidariedade, escuta, cura e libertação. Nossa Senhora nos ajude a ir ao encontro das pessoas, principalmente aquelas que se afastaram porque qualquer motivo da nossa comunidade de fé. Assim a nossa pastoral da acolhida deve se converter na pastoral da procura, pois se alguém desapareceu, nós temos que ir à procura, pois eles precisam de ajuda, de nossa sensibilidade pastoral. Se alguém afastou da comunidade, isto deve nos preocupar, pois é nosso irmão, membro do corpo místico de Cristo. Igreja é o lugar onde ninguém pode se perder. Ninguém pode largar a mão de ninguém. Todos devem caminhar juntos.
O que acontece se nós desaparecermos? Como a comunidade sente a nossa ausência, ou a nossa presença? Como que nós sentimos a ausência dos outros? Isto nos ajuda no nosso exame de consciência. E a mãe Maria, muito nos ensina, pois ela quer todos os filhos unidos e reunidos. Mesmo que o outro seja incômodo para a vida da comunidade, mesmo que esta ovelha dê trabalho para a vida da comunidade. Mas neste trabalho que ela dá à comunidade, qual é a mensagem que ela dá para a comunidade? Veja o que está na palavra: “Se ele a encontrar, ele ficará mais alegre com ela, do que com as noventa nove”.
É a alegria do reencontro. Dizem que a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros na vida. E quando há os desencontros na vida, é a oportunidade de reencontrar, de quem se encontra, de quem se põe ao lado do outro, de quem acolhe. A palavra de Jesus está dentro do Sermão da Igreja. Igreja significa convocação – vocação é chamado; convocação chamados juntos.
Esta imagem do Bom Pastor, a igreja evoca sempre com as muitas canções que temos do Salmo 23. O senhor é o meu pastor, nada me faltará. Várias belezas de poesia e cantos que expressam tudo que nós rezamos para chegarmos a Jesus, o bom pastor misericordioso. E tem uma imagem que ficou muito célebre; aquela da ovelha nos ombros do Bom Pastor. Inclusive o texto das exéquias: que o defunto possa ser transportado nos ombros do Bom Pastor.
Quando a ovelha está machucada, ele pega e coloca-a nos ombros. Diz que quando a ovelha desmaiava, no antigo Israel, o pastor dava o toque com o cajado nos seus pés, e assim ela se despertava e ele a colocava nos seus ombros, e assim ela sentia fortalecia e experimentava o cheiro do pastor. O Papa Francisco diz que o pastor deve ter o cheiro das ovelhas, mas o contrário também é muito válido, pois as ovelhas devem sentir não só a voz, mas o cheiro do pastor. E quando isto acontece, as ovelhas não se dispersam, porque sente o odor do pastor e do rebanho e nunca mais ela separará do rebanho.
Em Israel, as ovelhas estão juntas e misturadas, e quando os pastores as chamam, elas vão atrás. Jesus diz que elas conhecem a voz do pastor; porém, não é só isto, é também o cheiro do pastor. E assim, nunca mais ela vai se separar.
São Paulo diz que nós devemos espalhar o bom odor de Cristo, o perfume de Cristo. Portanto, o cheiro do bom pastor deve ser a misericórdia e a santidade;
Que Nossa Senhora nos ajude no aprendizado da admiração de Jesus, o Bom Pastor misericordioso e também à vivência desta pastoral da procura em nossa Igreja.
Pe Adilson Luiz Umbelino Couto
Pároco e Reitor do Santuário Nossa Senhora da Piedade