JUBILEU DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE, EM BARBACENA
Com Maria louvamos a Deus que revela seus segredos aos pequenos e humildes
Nestes dias, celebramos a novena e festa de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena. Durante as orações da novena, tem lugar especial, o Magnificat. A maravilha de Deus, exultada pela alma da Mãe de Jesus, nos faz criar ânimo e não ter medo, como nos exorta o profeta Isaías, na liturgia do 23º domingo do tempo comum.
A humildade cantada por Nossa Senhora no Magnificat e vivida por ela em toda sua caminhada nos inspira a viver o seguimento de Jesus com coragem, compromisso, fé e alegria. “O Senhor derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes”. A humildade de Maria é sinalizada na sua capacidade de entrega total à dependência da graça de Deus para realização do seu plano salvífico para a toda a humanidade. Mesmo sem entender tudo o que dissera o Arcanjo Gabriel no momento da anunciação, ela se fez disponível para fazer a vontade do Senhor. “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se mim conforme a vossa vontade”. A exemplo de Nossa Senhora, busquemos a superação do orgulho, vaidade, arrogâncias, soberba e qualquer forma de autossuficiência humana que nos impede de viver bem a comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs.
Com Maria, louvamos a Deus que se revela seus segredos aos pequenos e humildes. Este tema pode ser relacionado com o trecho do Evangelho de Mt 11, 25-30. Jesus louva o Pai porque Ele revela o seu projeto aos pobres e esconde aos “sábios”, “inteligentes” e “poderosos”. Somente os pobres, que foram roubados na sua liberdade (ser) e na sua vida (ter), podem compreender que o projeto de Deus é justiça que julga os ricos e poderosos, para devolver aos pobres e fracos a vida e a liberdade que lhes foram roubados. Saciou de bens os famintos, e despediu sem nada os ricos.
O pobre pode reconhecer Jesus como seu libertador porque a ele Jesus se revela como mediador do Pai, fazendo justiça. Os pobres estão cansados de carregar a sua cruz de miséria e opressão, cruz sobre a qual ainda sentam aqueles que só pensam na sua abundância, prestígio, riqueza e poder, as tentações que geram injustiça. Em Jesus, na sua palavra e ação, eles aprendem que Deus está do lado deles e que é através do seu anseio pela justiça que Deus irá criar um mundo novo, onde não mais existirá a vergonha, mais a alegria de ser, finalmente, humano. Só os pobres podem compreender o Evangelho, e somente eles podem trazer para todos o Reino de Deus.
Com a proclamação exaltou os humildes ( Lc 1,52), Maria explode com todos os seus sentidos e todo o seu ser para exaltar as pessoas que tem dentro de si mesmas o sentimento da sua fraqueza e que, pela sua reverência e seu respeito à vida, enternecem o coração de Deus; Maria levanta sua voz para exaltar, num cântico e em versos, a confiança depositada no Deus da vida das pessoas; Maria engrandece e afama por todas as gerações a acolhida carinhosa e intensa da chegada dessa vida por parte das pessoas que foram sujeitas à humilhação de grupos prepotentes.
São João Paulo II, em sua encíclica Redemptoris Mater, escrita para o ano mariano, com razão aplica à vida de Nossa Senhora a grande categoria da Kenóse, com a qual São Paulo explicou a vicissitude terrestre de Jesus. Cristo Jesus, que era de condição divina, não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas despojou-se (ekènosen) a si mesmo. (Fl 2,6-7). “Mediante essa sua fé – escreve o Papa – Maria está perfeitamente unida a Cristo em seu despojamento…Aos pés da Cruz, Maria participa mediante a fé no mistério desconcertante deste despojamento. Este despojamento consumou-se junto da cruz, mas começou bem antes. Também em Nazaré, e durante a vida pública de Jesus, ela avançava na peregrinação da fé. Não é difícil, porém, perceber naquele início “um particular aperto do coração e uma espécie de noite da fé”.
Tudo isso torna as vicissitudes de Maria extraordinariamente significativas para nós; devolve Maria à Igreja e à humanidade. É preciso constatar com alegria o grande progresso havido na Igreja católica no tocante à devoção a Nossa Senhora. Quem viveu antes e depois do Concílio Vaticano II facilmente pode dar-se conta disso. Antes, a categoria fundamental com a qual se explicava a grandeza de Nossa Senhora era a do ‘privilégio’ ou da isenção. Pensava-se que Maria tivesse isenta não só do pecado original e da corrupção, mas também que ela teria sido isenta das dores do parto, do cansaço, da dúvida, da tentação, da ignorância e enfim das realidades humanas. Dessa maneira, passava-se despercebido que, em vez de ‘associar-se’ Maria a Jesus, se chegava a dissocia-la completamente dele que, mesmo sem ter pecado, para nosso proveito quis experimentar tudo isso, cansaço, dor, angústia, tentações e morte.
Agora, segundo o Concílio Vaticano II, a categoria fundamental com a qual procuramos compreender a santidade única de Maria já não é a do privilégio, mas da fé. Maria caminhou, ou melhor, “progrediu” na fé. Isso não diminuiu, mas aumenta sem medida a grandeza de Maria. De fato, a grandeza espiritual de uma criatura perante Deus, nesta vida, não é medida tanto por aquilo que Deus lhe dá, quanto por aquilo que Deus lhe pede. E vamos ver que Deus pede muito a Maria, mais do a qualquer outra criatura, mas do que ao próprio Abraão.
Nós nos encontramos aqui, em jubileu mariano, como uma única família que se recolhe á volta de uma Mãe que partilhou as fadigas quotidianas de qualquer mulher e mãe de família, mas sem medo. Maria, a Imaculada Conceição é uma mãe verdadeiramente singular, escolhida por Deus para uma missão única e misteriosa: gerar à vida terrena ao Verbo eterno do Pai que veio ao mundo para a salvação de todos os homens.
Maria é a nova arca da aliança: presença de Deus no meio do povo. Maria fez a sua peregrinação terrena sustentada por uma fé intrépida, uma esperança inquebrantável e um amor humilde e sem limites, seguindo as pegadas do seu filho Jesus. Esteve ao seu lado com solicitude materna desde o nascimento até ao Calvário onde assistiu à sua Crucifixão, petrificada pela dor, mas inquebrantável na esperança. Depois experimentou a alegria da ressurreição, na aurora do novo dia, quando o Crucificado deixou o sepulcro vencendo para sempre e de uma maneira definitiva, o poder do pecado e da morte.
Uma vez mais, a Igreja indica ao mundo Maria como sinal de esperança segura e de vitória definitiva do bem sobre o mal. Aquela que invocamos cheia de graça, recorda-nos que somos todos irmãos e que Deus é o nosso Criador e o nosso Pai. Sem Ele, ou pior ainda, contra Ele, nós homens e mulheres, nunca poderemos encontrar o caminho que nos leva ao amor/CARIDADE (a vivência da misericórdia), nunca poderemos vencer o poder do ódio e da violência, nunca poderemos construir uma paz estável, uma criação integrada e harmoniosa.
Que os homens e mulheres de cada nação e cultura acolham esta mensagem de luz e de esperança, como dom das mãos de Maria, Mãe da humanidade inteira, que nos faz hoje pensar em nosso futuro, e buscar o céu…viver para as realidades do alto.
Por intercessão de Nossa Senhora da Piedade, Deus abençoe a todos: a nossa cidade de Barbacena, nossa paróquia, nossas famílias e comunidades, jovens e crianças, doentes e encarcerados, sacerdotes e vocacionados, consagrados na vida religiosas, leigos e leigas que buscam participar do Reino de Deus. Amém.
Pe Adilson Luiz Umbelino Couto
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade
Barbacena-MG