ARTIGO: Pe. Isauro S. Biazutti
Somos o templo no qual deve se realizar uma admirável e perfeita liturgia de adoração, de louvor e de ação de graças.
A Bíblia não traz a expressão Santíssima Trindade. Foi Tertuliano quem a usou pela primeira vez e a Igreja viveu um longo processo na solidificação da fé na Trindade. No ano 318, Ario propôs a tese do subordinacionismo do Verbo, ou seja, o Filho está subordinado ao Pai. O Concílio de Niceia (325), estabeleceu normas de fé em oposição à tese de Ario, o Concílio foi a favor da ideia da igualdade entre o Pai e o Filho. No ano 381, se realizou o I Concílio de Constantinopla. Nele ficou definida a divindade do Espírito Santo: uma substância, três pessoas. Nesse momento, consolidou-se a teologia trinitária do cristianismo. Em 451, aconteceu o Concílio de Calcedônia. Foi aí que a Igreja proclamou as duas naturezas (a divina e a humana) na única Pessoa de Cristo.
A Santíssima Trindade é mistério porque senão como seria pequeno um Deus que pudesse ser captado integralmente pela nossa inteligência humana. Este mistério está tão longe de ser compreendido pela razão humana que ele só foi revelado pelo próprio Jesus Cristo. Antes da vinda de Cristo ninguém o conhecia. No Antigo Testamento, temos passagens que apontam para o Deus Uno e Trino. Em Gn 18, 1-3, Javé apareceu no Carvalho de Mambré. Abraão, tendo levantado os olhos viu três homens de pé, perto dele, correu ao seu encontro e se prostrou por terra. E disse: “Meu Senhor…, etc, etc“. Abraão vê três homens, se prostra por terra, mas fala como se estivesse na presença de um homem só: “Meu Senhor”.
Quando queremos falar da Trindade na Unidade, nós usamos algumas imagens que, de alguma maneira, nos ajudam a aproximar mais de Deus. A imagem da árvore, p. ex: os ramos, o tronco e a raiz: três partes formando um todo. Os ramos produzem as flores e os frutos; o tronco produz a madeira, que é usada pra tantas finalidades; a raiz alimenta a árvore. Cada parte tem uma finalidade, mas não são três árvores, as três partes formam uma única árvore.
Celebrar a Santíssima Trindade é celebrar um mistério profundo de amor, diante do qual dobramos os joelhos em adoração: um só Deus em três pessoas. Nada mais sólido do que o nosso monoteísmo; nada mais nobre do que a nossa fé na Trindade. Nessa fé nos benzemos muitas vezes, traçando sobre nós o sinal da redenção: em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Na missa, cantamos com alegria os hinos de louvor à Trindade: o glória ao Pai, o glória a Deus nas alturas, cantamos o hino que o profeta Isaías ouviu os serafins cantarem diante de Deus: SANTO, SANTO, SANTO é o Senhor dos exércitos (Is 6, 3).
Na Solene celebração da Santíssima Trindade descobrimos como Deus, ao se revelar a nós, mais do que falar do que é em si mesmo, fala do que ele é para nós. Assim é o Deus da Trindade. Ele pode ser aceito com todo o seu indizível mistério; pode ser adorado, servido e amado, mas nunca explicado e compreendido. Um ídolo pode ser explicado e entendido, podemos narrar as suas origens, localizar sua morada, descrever a cor de suas vestes, mas o ídolo é fabricado pelas mãos do homem: não tem segredos nem mistérios. Se o nosso Deus não tivesse mistérios, não passaria de um ídolo qualquer.
Ao falar em comunhão da Trindade, recordamos que, também nós, devemos levar uma vida de comunhão entre nós e com Deus, que é unidade perfeita e, ao mesmo tempo, a comunidade mais perfeita. Como cristãos, somos chamados a viver a unidade na comunidade. Para que isso aconteça, precisamos passar do individualismo à solidariedade, da incomunicabilidade para a comunicação.
Celebrar a Trindade Santa é lembrar o nosso batismo. Por ele, nós renascemos para Deus em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, nos tornamos templos da Santíssima Trindade. Deus habita em nós. Portanto, quanto mais o mundo parecer distanciado de Deus, quanto mais dominado pela frivolidade, que lança um véu sobre a beleza moral, quanto mais escravizado pela mediocridade de comportamento, tanto mais tenhamos de sentir o dever de ajudar os nossos irmãos se elevarem às alturas da dignidade à qual Deus nos chama.
Pe. Isauro S. Biazutti