DÍZIMO OU PARTILHA? Dizimista, escolha, pois a vida!

A devolução espontânea já é realidade na grande maioria das paróquias no Brasil. Os fiéis são livres para contribuírem com a quantia que puderem ou desejarem. O Novo Catecismo da Igreja Católica traz a alteração do quinto mandamento da lei da Igreja que confirma essa nova perspectiva sobre essa prática. O que era: pagar o dízimo segundo o costume, passa a ser: Atender as necessidades da comunidade segundo as possibilidades de cada um.

Frente a essa realidade que já vivemos, somada às orientações da Igreja, é que proponho a reflexão quanto à mudança no modo de tratamento quanto a esta pastoral. Pastoral da Partilha, além de expressar com mais fidelidade nossa realidade, distingue a prática da nossa Igreja católica das demais denominações, cuja evangelização fundamentalista ora oportuniza-se na exploração dos fiéis e ora em uma barganha com o Deus da prosperidade. A espiritualidade da partilha implica numa participação na vida da comunidade que transcende os limites financeiros. Os fiéis participam por estarem envolvidos com a missão da Igreja. Por se sentirem parte de cada ação evangelizadora da paróquia. A gestão dos recursos igualmente muda, pois os gestores compreendem que os fiéis são motivados pela transparência e pela organização eficiente e eficaz de uma administração da qual fazem parte e se orgulham.

Ao pesquisar a etimologia da palavra partilha, aprendi que ela deriva da palavra latina partícula. Profundo, não é? A eucaristia está intimamente ligada a essa nova visão sobre o dízimo, que tem no altar sua fonte de solidariedade e missão.

Mas com quanto cada fiel pode participar?

Os fiéis são livres para decidir. É dever e direito nosso (agentes de pastoral) dar a entender aos fiéis que partilhar não é dar o que nos sobra e sim o que o outro precisa. A participação dos fiéis deve ser baseada em sua conversão e não na obrigatoriedade. Deve nascer da gratuidade do coração e não da culpa do bolso. Devemos evangelizar sob os caminhos da teologia do amor e não da dor. Não se trata de esmola, mas do reconhecimento do Senhorio de Deus em nossas vidas e do conhecimento de que somos chamados à partilha, às obras de misericórdia.

DÍZIMO: MINHA DECISÃO PELA VIDA
A modernidade, aos poucos, foi nos subtraindo a condição humana e a nossa identidade. Já não temos nome e sobrenome. Somos apenas “contribuintes”, “consumidores” e “investidores” e…”inadimplentes”. Não pertencemos mais a uma “sociedade”, pertencemos ao “mercado”. E no “mercado”, viramos “mercadoria”; E a mercadoria é impessoal, descartável, um número, um código de barra.

A vida, hoje – a vida humana, a vida animal e vegetal -, também está reduzida a objeto de mercado. De compra e venda. Coisas de consumo e de contabilidade. Quanto “vale” um senador, um empresário, um jogador de futebol, um músico, o presidente norte-americano? Quanto vale o seu passe ou o seu resgate? Se você quiser saber a sua cotação no mercado social, imagine quanto pediriam pelo seu resgate no caso de sequestro. E alguém o sequestraria? A cotação de uma pessoa se faz pelo número de seguranças, pelo carro blindado, pela cerca elétrica e pelas grades que o isolam. Como a propaganda do antigo sabonete, “você vale quanto pesa” em ouro, em dólares ou euros. Logo, logo seremos identificados não pelo RG, mas, pelo código de barras. E tudo o que se refere à vida também é cotado no grande mercado. Olha-se para a floresta não para avaliar o que ela representa para a qualidade da vida humana, mas, para calcular, ao derrubá-la, quanto ela vai “render” em madeira, em pastagem, em exploração do seu sub-solo. Olha-se para os rios e mananciais de água não como fonte de vida para o homem e para o peixe. Mas quanto eles “valem” na exploração comercial de suas águas para envasamento. E enquanto eles barateiam os custos públicos de escoamento do esgoto, do lixo e dos detritos químicos.

Assim também com a vida humana. Para que manter vivo o velhote pobre ocupando inutilmente um leito de hospital? Eutanásia nele! Por que permitir a uma mulher pobre colocar mais um “pivetinho” no mundo para ameaçar a vida dos que “trabalham” e “produzem”? Aborto nele! Afinal, cada pobre que nasce é um perigo e um estorvo para a sociedade. É mais um que vai assaltar, vai incomodar o “consumidor” no sinaleiro, no estacionamento de rua, nos restaurantes. Aborto neles!

E outra: se a vida é apenas uma mercadoria descartável, podemos manipulá-la à vontade. A engenharia genética, como a engenharia industrial não é uma permanente busca de superação do antigo pelo novo? Uma nova geração de computadores e celulares não resiste a um mês. Já saímos da loja ou da agência com o último modelo de celular ou de carro já ultrapassado. Não é mais a idade que nos torna velhos. É a mercadoria, a roupa, a filmadora que usamos.

E de onde surge o novo? Do poder de manipulação no laboratório. Nada mais é intocável, imutável, perene, eterno. Nada mais é território exclusivo de Deus. O parceiro de Deus rompeu os limites. Já não há mais fruto proibido. Como qualquer outro produto, o homem é uma engenhoca de laboratório. Como rato-cobaia, é dissecado, clonado, retalhado, base de experiências. Seus órgãos entram na cotação do mercado. No mundo dos negócios, a ética e a moral é o que menos contam. Foi assim que Jesus confrontou o comportamento escrupuloso dos fariseus nos detalhes sem importância, e se omitia do fundamental: “Vocês dão a Deus até o Dízimo da hortelã, da arruda e das verduras, mas, não são justos com os outros e não amam a Deus.” (Lc 11, 42)

O Meu Dízimo não pode ser apenas um detalhe menor perante a vida. Não é um dinheiro que apenas compra e consome. Apenas um fator de mercado. O dízimo é decisão em favor da vida: a humana, a vegetal, a animal. O Dízimo é uma aposta na capacidade que o ser humano tem, como parceiro de Deus, de acelerar o processo de humanização do homem por meios éticos e morais. O dizimista é alguém que se orgulha de pertencer a uma humanidade que sai da condição de moradora da caverna para alcançar o espaço integrado no todo da natureza. Que consegue, através do avanço da ciência e da tecnologia da medicina, permitir o homem aumentar a idade média de vida de 40 para 80 anos. Que, através da tecnologia de alimentos consegue triplicar o número de participantes do banquete da vida. O Dizimista faz festa ao se sentir construtor da história humana, sempre em evolução, corrigindo os desacertos e vieses que, por vezes, o desumanizam, como agora. O dizimista acredita que o ser humano é capaz de superar-se a si mesmo. Que se esforça por restituir ao ser humano mesmo reciclado com todos os recursos do laboratório, a sua condição de “humano” e não de objeto de mercado, de compra e venda.
Dizimista, “escolha, pois, a vida!”

Pe Adilson Luiz Umbelino Couto