Espiritualidade da Missão: estar a Caminho
Iniciamos, hoje, o mês missionário. Em tempos de reflexão sobre a sinodalidade, é importante falar sobre a realidade do caminho. E sobretudo o “caminhar juntos”. A vida Cristã como caminho é uma constante que orienta nossa vida. A categoria do Caminho é enriquecedora e fundamental em toda a História da Salvação. A missão é caminho, e é no caminho que Deus se revela – revitaliza-se e constrói sua identidade. O horizonte se aproxima, os olhos se abrem, as visões mudam, tudo se transforma. A única certeza é que Jesus caminha conosco. A missão é um convite para “avançarmos para as águas mais profundas” (Lc 5,4). Há o perigo das profundezas, mas se não houver o risco não se chega a nenhum lugar. É preciso arriscar-se: sair do lugar estagnado, da escuridão, da montanha. É preciso sair da própria terra e atravessar todas as fronteiras.
Mas o que significa sair da própria terra? (Gn 12,1). Não é só das coisas e das pessoas que é preciso sair, é preciso sair da própria rotina do cotidiano. “Para onde, Senhor?” poderíamos nos perguntar? Logo pensamos no lugar seguro, da chegada. Queremos prever todos os passos. Estabelecer programas de evangelização e estratégias pastorais. Sem querer desconsiderar sua importância, devemos estar atentos para não queremos domesticar o caminho dentro de trilhas bem definidas, pois assim destruiremos a história e a revelação do Senhor. E, é dando cada passo, na provisoriedade do dia a dia que Deus se revela. “Mestre, onde moras?” De novo, a certeza de uma casa, de um endereço, da segurança. “Vinde e Vede” (Jo 1, 39) responde o Mestre. “Eu sou o Caminho” (Jo 14, 6). É em cada passo que é dado, sem ter tudo claro, que Deus vai se revelando. Maria, mãe de Jesus, caminhava e confiava em Deus sem ter tudo claro. Ela caminhava pela fé e não pela evidência.
De todo este caminho de missão, uma certeza, o Senhor nos precede no caminho. Às vezes, sempre procuramos o mais curto, evitamos as voltas. Mas o Senhor nos precede para nos mostrar o caminho (Ex 13,17.18.21). E aqui aparece a necessidade da luta na caminhada: caminhar é preciso – o povo disperso de Israel, cansado e massacrado pela escravidão do Egito, torna-se povo de Deus no caminho pelo deserto, lugar de perigo, mas também lugar de encontro com o Senhor. A promessa da terra acompanhava o povo amedrontado. “Onde está a terra prometida?” É trilhando o caminho que vai se chegar à terra. Lembramos também que na missão, é preciso sempre o alimento: “Elias, levanta-te e come, pois é grande o caminho que te resta” (1Rs 19,5-8). O pão da Palavra e da Eucaristia é a fonte da missão e da vida solidária. No dia a dia, pessoalmente e juntos, Deus nos alimenta com a comida certa para recuperar as forças.
Somos, então, pessoas do caminho, assim como os que nos precederam na fé: “Eram adeptos do caminho, homens e mulheres” (At 9,2). De fato, os primeiros cristãos estavam conscientes de haverem encontrado o verdadeiro caminho que é a pessoa, “Jesus Cristo”. O caminheiro não leva nada consigo – (Mt 6,33). A busca incessante de quem se põe nos passos do Mestre é a busca incessante do Reino, sem outras exigências e compromissos (Mt 6,25ss), ou seja, a busca do Reino de Deus (Mt 7,21). O caminho na pobreza leva o missionário a trilhar as veredas com os pobres e os despossuídos (Lc 10,4).
Para uma nova evangelização, como nos propõe a Igreja, nestes últimos anos, é preciso muita atenção com o caminho. Deus se revela no caminho e não fora dele. “Caminheiro não há caminho. Faz-se o caminho ao caminhar”. E qual deve ser a nossa atitude, como missionário? Gratuidade e busca, porque é no caminho que o missionário se torna hóspede na casa do outro e vive a gratuidade de ser acolhido. É caminhando que o discípulo continua a buscar o tesouro escondido no sulco da vida do outro. O caminho nos torna itinerantes e mendigos de Deus. A busca é infinita e para sempre. Não há mais retorno. Jesus é o caminho.
- Pe Adilson Luiz Umbelino Couto