Mês vocacional: tempo de graça para nossa Arquidiocese
Neste mês vocacional, vivemos um tempo de graça, em nossa Igreja Particular de Mariana, com as ordenações presbiterais, pois são três jovens que se consagram, para sempre, suas vidas a Deus, no ministério sacerdotal. Um deles pertence à nossa paróquia, o diácono José Mário Santana Barbosa, e o seu companheiro Carlos Geovane Magri é nosso conterrâneo, membro da paróquia São José Operário. A ordenação presbiteral destes dois diáconos acontecerá, no próximo sábado, às 10h, na Basílica de São José, em Barbacena. Acompanhemos esta preparação próxima, com nossas orações. E quem puder, participe com eles, e com toda a Igreja, neste dia, que o Senhor fez para nós.
E no último sábado, 11 de agosto, foi ordenado presbítero, Fabrício Lopes Fernandes. Ele é natural de Pedra Bonita, MG, e estava exercendo o seu ministério diaconal, em Urucânia, MG. O Pe Fabrício é da mesma turma dos Diáconos de Barbacena, que serão ordenados, no sábado, 24 de agosto. Tive a graça de ser convidado pelo novo padre de Pedra Bonita para ser o pregador da sua primeira missa. A seguir, deixo o texto com a reflexão, que dirigi a ele e sua comunidade, na primeira missa que ele presidiu, em sua terra natal, no dia 11 de agosto.
Homilia da Primeira Missa do Pe Fabrício Lopes Fernandes
Pedra Bonita – 11 de agosto de 2024
“Eu sou o pão da vida” (Jo 6,48). “Fazei isto, em memória de mim” (1 Cor 11, 24)
Caros irmãos no ministério ordenado (padres e diáconos – saudação especial ao pai do neo-sacerdote, Diác. Lautair; e na pessoa dele, cumprimento todos os pais, neste dia a eles, dedicado), prezados irmãos em Cristo Jesus, Revmo padre Fabrício Lopes, “dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é a sua misericórdia” (Sl 117,1). Que alegria podermos participar com o senhor desta primeira missa que preside em sua terra natal, nesta matriz de São José em Pedra Bonita-MG; a paróquia, onde você recebeu os sacramentos de iniciação cristã, e ontem, 10 de agosto, foi ordenado presbítero para o serviço do povo santo de Deus nesta querida Igreja Particular de Mariana. Obrigado por me permitir, dirigir algumas palavras a todos, nesta ocasião de graça em sua vida e na vida de todos nós. Hoje é um dia marcante da sua história, e também da vida de nossas famílias: dia dos pais, mês vocacional, início da semana nacional da família. Sinto-me muito feliz de participar da sua caminhada vocacional, como seu formador, na etapa do discipulado (filosofia); professor na etapa da configuração (teologia). E agora na reta final da sua formação inicial, no período da síntese, trabalhando, juntos, em Ouro Preto.
Para iniciar nossa meditação deste 19º domingo do tempo comum, queremos olhar para Jesus, o pão da vida. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, se faz “pão”, Humanidade convertida em alimento para os outros. Jesus deseja e se faz para nós um alimento substancioso. É preciso que tenhamos acesso a um alimento que possa nutrir nossa identidade essencial. É preciso nutrir em nós o que não morrerá. O sacerdócio ministerial tem uma íntima relação com a Eucaristia: foram instituídos, no mesmo momento, e realizamos a liturgia deste memorial, na quinta-feira santa. Algumas horas antes de morrer, na ceia que Ele sabia que ia ser a última, Jesus se viu a si mesmo, em cima da mesa, em forma de pão. E disse: “meu corpo entregue é pão”. E Ele sabia que ia ao moinho para ser triturado e se tornar pão para muitos. “Fazei isto em memória de mim”. (seu lema sacerdotal) “Isto” se refere ao partir e partilhar o pão em torno à mesa; “isto” significa comungar com Jesus e com todos que O comungam, formar um só Pão para alimento do mundo. Nossa primeira tarefa, no exercício do ministério sacerdotal, Pe Fabrício, é alimentar e ser alimento para nosso povo, a quem o senhor deve servir, com profunda alegria, e fidelidade a Deus, que nos chamou por pura bondade e gratuidade. Cada ser humano, isto é, cada discípulo de Cristo, é chamado a ser “pão vivo, descido do céu” para outro ser humano; cada homem, cada mulher (cada pai ou mãe de família) é revelação de Deus, pão de vida eterna para os outros. Por viver neste nível, por entregar-se e compartilhar a vida neste plano, os homens e mulheres “não morrem”, tem vida eterna. Mas, neste sentido, sobretudo o padre, deve ser, em primeiro lugar, este alimento para a comunidade, para o povo, a Igreja. A Vida Eterna não se revela num gesto de pura interioridade, mas no encontro e comunhão de uns com outros… Quem crê nos demais, quem compartilha com eles a vida (fazendo-se eucaristia) tem a vida eterna, porque Deus é Comunhão de Vida e porque Jesus é a revelação mais alta desse Deus entre nós. Existe, em nós, algo que se alimenta de ternura, que se alimenta de poesia, que se alimenta da qualidade de nossas relações. O silêncio, a luz, a gratuidade, o encantamento, a simples presença… alimentam nosso ser espiritual. Desejo que o senhor, Pe Fabrício, possa ser este alimento, com seu jeito simples, humilde e artístico.
Depois desta meditação do Evangelho associada à vida do novo padre, gostaria ainda de apresentar algumas pistas de como o padre Fabrício poderá viver bem a sua missão como presbítero da Igreja, contando também com ajuda de todos nós, sobretudo a partir das nossas orações e amizade fraterna.
A missão do presbítero realiza-se “na Igreja”. Esta dimensão eclesial, da comunhão hierárquica e doutrinal é absolutamente indispensável para toda a missão autêntica e a única que garante a sua eficácia espiritual. A missão é “eclesial”, porque ninguém se anuncia nem se leva a si mesmo, mas, dentro e através da própria humanidade, cada sacerdote deve estar bem consciente de levar Outro, o próprio Deus, ao mundo. Deus é a única riqueza que, de modo definitivo, os homens desejam encontrar num sacerdote. A missão é de comunhão, porque se realiza numa unidade e numa comunhão, que apenas secundariamente, têm também aspectos relevantes de visibilidade social. Estas dimensões derivam da intimidade divina em que o sacerdote é chamado a ser perito para poder, com humildade e confiança, conduzir ao mesmo encontro com o Senhor as almas (o povo) que lhe forem confiadas.
Tenha clareza que a função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o seu Corpo e o seu Sangue. Isto faz parte da nossa identidade sacerdotal, e dizia recentemente o papa “é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da missão”.
Padre Fabrício, que a Eucaristia e a Palavra sejam o centro da sua vida presbiteral. Não deixe de celebrar a Eucaristia, nunca. Se possível todos os dias. E mais a celebração quotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho de toda existência que se faz dom a Deus e aos outros, e torna-se assim orientação para os fiéis.
São João Maria Vianney, nosso patrono, sublinhava o papel indispensável do sacerdote, quando dizia: “Um bom pastor, um pastor segundo o Coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus possa conceder a uma paróquia, e uma das dádivas mais preciosas da misericórdia divina”. Escolhido entre os homens, o presbítero permanece um deles e é chamado a servi-los, doando-lhes a vida de Deus (Prova de amor maior não há que doar a vida pelos irmãos). É Ele quem “continua a obra de redenção na terra”. A nossa vocação sacerdotal é um tesouro que trazemos em vasos de argila (cf. 2 Cor 4, 7). São Paulo expressou, felizmente, a distância infinita que existe entre a nossa vocação e a pobreza das respostas que podemos oferecer a Deus. Nós conservamos nos nossos ouvidos e no nosso coração, a exclamação comovedora e confiante do Apóstolo, que disse: “Quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12, 10). A consciência desta debilidade abre à intimidade de Deus, que incute força e alegria.
Quanto mais o sacerdote perseverar na amizade de Deus, tanto mais continuará a obra do Redentor na terra. O sacerdote não vive para si mesmo, mas para todos. É precisamente nisto que consiste um dos desafios principais do nosso tempo. O sacerdote, certamente homem da Palavra divina e do sagrado, hoje mais do que nunca deve ser um homem da alegria e da esperança. Aos homens que já não conseguem compreender que Deus é Amor puro, ele há de reiterar sempre que a vida vale a pena de ser vivida, e que Cristo lhe confere todo o seu sentido porque Ele ama os homens, todos os homens.
Para terminar, padre Fabrício, queridos irmãos e irmãs, apresento São João Crisóstomo, um padre da Igreja do século IV-V, dizendo que o sacramento do altar e o “sacramento do irmão”, ou como se diz “sacramento do pobre”, constituem dois aspectos do mesmo mistério. O amor ao próximo, a atenção à justiça e aos pobres não são apenas temas de uma moral social, mas sobretudo expressão de uma concepção sacramental da moralidade cristã porque, através do ministério dos presbíteros, se realiza o sacrifício espiritual de todos os fiéis, em união com o de Cristo, único Mediador: sacrifício que os presbíteros oferecem de modo incruento e sacramental, à espera da nova vinda do Senhor. Esta é a principal dimensão, essencialmente missionária e dinâmica, da identidade e do ministério sacerdotal: através do anúncio do Evangelho eles geram a fé naqueles que ainda não acreditam, para que possam unir ao sacrifício de Cristo o seu sacrifício, que se traduz em amor a Deus e ao próximo. Aqui está o grande foco da chamada caridade pastoral; configuração que você é chamado a realizar com o Cristo, Bom Pastor.
Pe Fabrício, que Maria, a Senhora das Graças, a mãe dos sacerdotes e São José, intercedam por você e lhe ajudem na vivência da sua consagração no ministério sacerdotal. Seja muito feliz. Deus abençoe conte com nossa fraternidade, amizade e orações. Parabéns, pedindo também sua bênção neo-sacerdotal.
Pe Adilson Luiz Umbelino Couto
Pároco de Nossa Senhora da Piedade – Barbacena